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O TRATOR


a vista

Sexta-feira, 14 de novembro, depois de uma manhã intensa de trabalho na empresa de um cliente, sai com Lauzinha pela cidade. De súbito fui arrebatado por uma imensa vontade de ir a um boteco. Um boteco, mas um boteco de verdade. Desses, com cadeiras desconfortáveis, garçonetes mal humoradas e cerveja meio gelada. Boteco que se presa, não serve cerveja gelada totalmente, eu acho que faz parte do SIMPLES. Resolvemos parar em um boteco na Praia de Aruana. Gente, vocês não vão acreditar, mas, era exatamente o que eu estava procurando. Porém, com uma atração a mais: bem a nossa frente, havia um trator enorme derrubando um dos poucos bares que ainda restavam na região. Juro, eu lembrei de Adoniran Barbosa. Sentamos a uma mesa de plástico e de camarote assistimos a demolição, “...que tristeza, que eu sentia, cada “talba” que caia, doía no coração...” Em meio à poeira que subia, Lauzinha filosofou:

- Meu filho, a gente viu a construção da Ponte Construtor João Alves, a gente viu a construção do viaduto do DIA, ver agora estes bares sendo demolidos, parece que a gente está assistindo ao filme errado.

E, não é que ela tinha razão. Aprendemos a ver uma cidade em construção e, não paramos para pensar que a destruição, também faz parte do mesmo processo. Quantos sonhos ainda terão que ser desfeitos, para que novos sonhos possam se realizar. Quantos tratores ainda irão por abaixo, aquilo que pensávamos ser nosso para o resto da vida. De repente, vi um garçom em minha frente com uma garrafa de cerveja meio gelada na mão. Não perdi tempo e tentei ser engraçado:

- Meu amigo, quanto é que você pagou para destruir a concorrência aí da frente?

O garçom olhou para mim meio sem jeito e disse.

- Meu senhor, eu não paguei nada. Para falar a verdade, eu estou aqui olhando de longe só esperando a minha vez, porque este terreno onde está o meu bar, também não me pertence. Tomara que o ministério público não atravesse a avenida.

Em silêncio, eu e Lauzinha tomamos a cerveja meio gelada que o garçom nos serviu, esperando que um trator, nunca passe por cima dos nossos sonhos.


o ponto

1 comentários:

Danilo Reinert disse...

"Quantos sonhos ainda terão que ser desfeitos, para que novos sonhos possam se realizar."

Cara você me deu um insight agora! Valeu!!