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CRITICA SOBRE “O AMOR” EM O BANQUETE (Platão)

O Diálogo de Platão sobre o Amor é quase um manual de sentimentos. Hoje em dia poderíamos dizer que é um verdadeiro GPS com poder de conduzir o leitor por caminhos desconhecidos, mas, com a certeza de chegar ao destino em total segurança. Porém, é interessante frisar que este caminho é sinuoso e cheio de bifurcações (interrogações). É claro, que como GPS, o texto só indica o trajeto, cabe ao leitor a sensibilidade para encontrar a melhor maneira de condução. Então, vamos dar a partida. Segundo Diotima - sacerdotisa de Matinéia - o Amor é filho da Penúria (Pênia) com o deus da riqueza Poros. Nascer desta fusão é que dá ao Amor esta característica multifacetada. Ao mesmo tempo em que é pobre, duro, descalço e sem teto, é um mestre do malabarismo, do feitiço e do discurso envolvente. Com características tão peculiares como podemos então confiar em algo tão metamórfico? Seria o Amor um sentimento enganador para quem os fins justificam os meios? Se, como diz o texto, é preciso ir muito além da aparência para encontrar o verdadeiro Amor, como pode ele servir e assistir Afrodite ? Será que Amor conseguiu ver a alma de Afrodite? Ou a relação de Amor com Afrodite seria somente uma predestinação por ele ter sido gerado no mesmo dia em que ela nasceu? Mas, se assim fosse, teríamos que acreditar em destino, onde um nasceu para amar o outro. O Amor ama a sabedoria porque – como conta Diotima – é herdeiro da ignorância da mãe, mas por acaso não se ama um ignorante? Platão nos apresenta um Amor longe da suavidade e da beleza e depois, por um processo de desconstrução, através do conhecimento interior nos faz ver a sua antítese quanto diz:
Quando um homem foi assim instruído no conhecimento do amor, passando em revista coisas belas, uma após a outra, numa ascensão gradual e segura, de repente terá a revelação, ao se aproximar do fim de sua investigação do amor de uma visão maravilhosa, bela por natureza (...) e esse é o objeto final de todo afã.
Platão nos sugere um amor ascético. Contingencial - quando aconselha passar por vários corpos. Outra interrogação que encontramos pelo caminho diz respeito à vigência do Amor. Para Platão o Amor não é mortal e nem imortal. Se não é mortal e nem imortal o que é? Assim, depois de termos percorridos tantas indagações chegamos ao final desta viagem pelo “O Banquete” e descobrimos que passeamos pelo delicioso caminho da dialética ascendente de Platão onde devemos resistir à sugestão do sensível para buscar as puras relações inteligíveis.

P.C: Platão, Afrodite, Amor, Diotima.

1 - Mantineia (em grego Mαντινεία) é uma cidade grega, situada na prefeitura da Arcádia, no centro da periferia do Peloponeso. Foi palco de duas importantes batalhas na Antiguidade Clássica, em 418 a.C. (no contexto da Guerra do Peloponeso) e em 362 a.C.. Hoje em dia situa-se escassos quilômetros a norte de Trípoli, a capital da prefeitura da Arcádia.
2 - Afrodite (em grego antigo: Αφροδίτη) era a deusa grega da beleza..
3 - Lóg. Diz-se de uma proposição cuja verdade ou falsidade só pode ser conhecida pela experiência e, não, pela razão.

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