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UM PRESENTE PARA SEMPRE

Em uma de minhas viagens conheci uma moça muito doida. O nome dela é Ana Lidia. Gaucha. Despachada. Digamos que pelo tamanho, espaçosa. Linda. Olhos verdes. Dona de uma gargalhada fenomenal. Compradora compulsiva. Produtora de eventos. Um show de pessoa. Divertirmos-nos muito juntos. Quando estávamos indo da Espanha para a França ela disse: “quero lhe dar um presente para tu nunca mais se esquecer de mim”. Era um livro de Marta Medeiros – DOIDAS E SANTAS. Confesso que nunca tinha lido nada de Marta Medeiros e também não entendi muito o porquê dela me presentear com aquele livro. Bom, ali mesmo comecei a ler as crônicas do livro. Nesse dia nevava muito e a França havia fechado a fronteira com a Espanha. Ficamos mais de dez horas parados. Seria cômico se não fosse trágico. No começo tudo bem, já que muitas pessoas no ônibus nunca tinham visto tanta neve na vida. Gente, era neve pra mais de metro. Mas depois começou a ficar difícil. Sem água, sem banheiro, sim, porque os ônibus de turismo na Europa não têm banheiros e, sem comida, pois eles não permitem a entrada de comida – que é para não deixar o ônibus cheirando mal. Bom para abreviar, algumas horas depois de parados, as mulheres já estavam saindo em grupo para fazer xixi nos Pirineus e o pessoal de tanta fome começou a comer até o lanche do filho de uma turista amiga nossa. Bem, mas voltando assunto deste post, ali mesmo comecei a me enfronhar no universo de DOIDAS E SANTAS. Deparei-me com coisas que jamais havia pensado. Crônicas deliciosas e uma carpintaria literária fantástica. Em um dos seus contos, por sinal um dos meus preferidos – OBRIGADO POR INSISTIR – ela diz: “(...) Obrigado por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperto e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram. (...) Obrigado por insistir para eu voltar para você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois. (...) Obrigado por insistir para que eu deixasse você e fosse seguir a minha vida, obrigado pela confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes. (...) Obrigado por insistir para eu cortar o cabelo, obrigado por insistir para eu dançar com você, obrigado por insistir para eu voltar a estudar.” E termina Marta Medeiros: “(...) Em tempo em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo”. Li o livro todo enquanto ficávamos ali parados. Foi uma viagem dentro de outra viagem. Na dedicatória minha amiga Ana Lidia colocou: “Que este livro fique como residual de uma viagem fantástica com amigos tão queridos”. E ficou.

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